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Esta última etapa, com cerca de 90 milhas, teve início na Marina de Rota, onde pernoitámos, junto à Baia de Cadiz, na companhia do “MAIÂO” e do “LUSITO”, que foram os nossos verdadeiros “anjos da guarda” nesta fase final da viagem, uma vez que possuíam radar e AIS. Eram cerca das 8H00 da manhã do dia 15 de Agosto, dia de feriado em Portugal e também Espanha, quando dissemos adeus à pequena e simpática Marina de Rota, com vento fraco, prevendo-se, no entanto, vento forte, com picos de 25 nós a 30 nós para o final da tarde. Previsão que se confirmou em pleno, ao contrário da generalidade das demais previsões meteorológicas ao longo da viagem, muito em resultado do facto dos ventos no Mediterrâneo Ocidental serem de origem térmica, ou seja eminentemente locais, o que .... (clique Leia mais ... para ver o artigo completo) tende a baralhar quaisquer previsões meteorológicas que se possam fazer, como veio a acontecer.
Com o avançar da tarde e o aproximar da costa portuguesa o vento começou progressivamente a aumentar e intensidade, tendo atingido os 25 nós, com picos de 30 nós, e uma ondulação da ordem dos 2 – 3 metros, imediatamente antes do pôr sol.
Assim o período entre as 16H00 do dia 15 de Agosto e as 3H00 do dia 16 de Agosto, durante mais de 11 horas, a tripulação do ANNE foi sacudida com intensidade, o que colocou à prova os conhecimentos e a estamina de toda a tripulação, com o skipper Eduardo Gonçalves a brilhar a grande altura e a mostrar as suas inegáveis capacidades de homem do mar e a sua vasta panóplia de conhecimentos náuticos, como já anteriormente tinha acontecido ao dobrarmos a Ponta da Europa, o ponto mais a sul do continente europeu, em Gibraltar, onde nos deparámos com ventos de 37 nós e ondas alterosas, próximas dos 3 – 4 metros.
Por precaução, foi equacionada com o MAIÂO e com o LUSITO, que seguiam na nossa esteira, a possibilidade de rumarmos à Barra de Faro, tanto mais que as ondas mais fortes varriam o ANNE desde a proa até à popa, atingindo por vezes o deck inferior, deixando-nos “ensopados até aos ossos”, como ousa dizer-se. Verdadeiramente radical.
Todavia, com o crepúsculo o vento diminuiu ligeiramente, cumprindo com o ditado de que o “vento vem e vai com o sol”, tendo-se fixado na casa do 18 – 20 nós próximo do Cabo de Santa Maria, nas proximidades da Barra de Faro.
Esta circunstância deu alento a que rumássemos definitivamente à Marina de Albufeira cerca das 23H30, na companhia do MAIÂO e do LUSITO, depois de dobrado o Cabo de Santa Maria, , embora as vagas desencontradas de 2 – 3 metros tornassem a navegação por vezes desconfortável e fisicamente exigente, também fruto do frio intenso provocado pelo avançar da noite e pelo vento que se fazia sentir. As luzes da costa portuguesa, quais navios no horizonte, acompanhavam-nos por estibordo
A aproximarem-se as 19 horas consecutivas de navegação o cansaço, o frio e a fome, uma vez que a última refeição tinha sido o pequeno-almoço do dia anterior, eram a nota dominante em toda a tripulação do ANNE e o desejo de chegar rapidamente era a meta almejada por todos.
Nesta altura progredíamos a cerca de 6 – 7 nós de velocidade real (Speed Over Ground), a motor e com a vela grande no 1º rizo. Cerca das 2H00 da manhã começamos a vislumbrar, finalmente, a Marina de Albufeira, onde chegámos cerca das 3H00 da manhã.
Todavia a chegada à Marina de Albufeira estava destinada a ser assinalada de uma forma com o seu quê de inusitado e que nos fez viver a todos alguns breves minutos de alguma angústia.
Com efeito, e no decurso das manobras de atracação na Marina de Albufeira e quando o ANNE estava já a ser puxado pelos cabos de fixação, a Zenaida Faria, que não conta entre os seus conhecimentos o saber nadar, tropeçou e caiu à água com o respectivo colete vestido.
De imediato, o autor destas linhas atirou-se à água e com ajuda de todos os elementos da tripulação foi possível retirar a naufraga da água, a qual, como está bem de ver, não ganhou para o susto. Esta situação deu razão por mérito próprio ao dito, repetidamente referido no decurso do Curso de Sobrevivência e Salvamento no Mar realizado oportunamente no Alfeite, de que “somos todos candidatos a náufragos”. Salvo seja.
Mas tudo está bem quando acaba em bem, principalmente depois de um chá quente com torradas, preparados pela Zita Gonçalves, sempre oportuna, e de um sono reparador de algumas horas.
Com a chegada do ANNE à Marina de Albufeira conclui-se a viagem ao Mar de Alboran que, conjuntamente, com a viagem a Porto Santo, marca o ponto alto do programa de verão da APM10.
Por sua vez, este cruzeiro ao Mar de Alboran, no Mediterrâneo Ocidental, marca a mais longa permanência no mar de um associado da APM10, cerca de três semanas, na circunstância o Eduardo Gonçalves e esposa, acompanhados na 2ª metade da viagem pelo Eduardo Faria e esposa, bem como pela Tuxa.
Saudações Náuticas,
Eduardo Faria (Associado APM10)